As citadas
três páginas do vídeo logo abaixo copiadas, confesso que eu ainda não as
encarei até o fim, tentei 5 anos atrás e falhei...(Embora tenha tido um trabalho de alguns minutos para formatar tudo).
PRIMEIRA SEÇÃO
Passagem do
conhecimento racional comum da moralidade ao conhecimento filosófico
NÃO É POSSÍVEL
conceber coisa alguma no mundo, ou mesmo fora do mundo, que sem restrição possa
ser considerada boa, a não ser uma só: uma BOA VONTADE. A inteligência, o dom
de apreender as semelhanças das coisas, a faculdade de julgar, e os demais
talentos do espírito, seja qual for o nome que se lhes dê, ou a coragem, a decisão,
a perseverança nos propósitos, como qualidades do temperamento, são sem dúvida,
sob múltiplos respeitos, coisas boas e apetecíveis; podem entanto estes dons da
natureza tornar-se extremamente maus e prejudiciais, se não for boa vontade que
deles deve servir-se e cuja especial disposição se denomina caráter. O mesmo se
diga dos dons da fortuna. O poder, a riqueza, a honra, a própria saúde e o
completo bem-estar e satisfação do próprio estado, em resumo o que se chama
felicidade, geram uma confiança em si mesmo que muitas vezes se converte em
presunção, quando falta a boa vontade para moderar e fazer convergir para fins
universais tanto a imprudência que tais dons exercem sobre a alma como também o
princípio da ação. Isto, sem contar que um espectador razoável e imparcial
nunca lograria sentir satisfação em ver que tudo corre ininterruptamente
segundo os desejos de uma pessoa que não ostenta nenhum vestígio de verdadeira
boa vontade; donde parece que a boa vontade constitui a condição indispensável
para ser feliz.
Há certas
qualidades favoráveis a esta boa vontade e que podem facilitar muito sua obra,
mas que, não obstante, (394) não possuem valor intrínseco absoluto, antes pressupõem
sempre uma boa vontade. É esta uma condição que limita o alto apreço em que,
justificadamente, as temos, e que não permite reputá-las incondicionalmente
boas. A moderação nos afetos e paixões, o domínio de si e a calma reflexão, não
são apenas bons sob múltiplos aspectos, mas parece constituírem até uma parte
do valor intrínseco da pessoa; falta contudo ainda muito para que sem restrição
possam ser considerados bons (a despeito do valor incondicionado que os antigos
lhes atribuíam). Sem os princípios de uma boa vontade podem tais qualidades
tornar-se extremamente más: por exemplo, o sangue frio de um celerado não só o
torna muito mais perigoso, como também, a nossos olhos, muito mais detestável
do que o teríamos julgado sem ele. A boa vontade é tal, não por suas obras ou
realizações, não por sua aptidão para alcançariam fim proposto, mas só pelo
"querer " por outras palavras, é boa em si e, considerada em si
mesma, deve sem comparação ser apreciada em maior estima do que tudo quanto por
meio dela poderia ser cumprido unicamente em favor de alguma inclinação ou, se
, se prefere, em favor da soma de todas as inclinações. Mesmo quando, por
singular adversidade do destino ou por avara dotação de uma natureza madrasta, essa
vontade fosse completamente desprovida do poder de levar a bom termo seus propósitos;
admitindo até que seus esforços mais tenazes permanecessem estéreis; na hipótese
mesmo de que nada mais restasse do que a só boa vontade (entendendo por esta
não um mero desejo, mas o apelo a todos os meios que estão ao nosso alcance),
ela nem por isso deixaria de refulgir como pedra preciosa dotada de brilho
próprio, como alguma coisa que em si possui valor. A utilidade ou inutilidade
em nada logra aumentar ou diminuir esse valor. A utilidade seria, por assim
dizer, apenas o engaste que faculta o manejo da jóia no uso corrente, ou capaz
de fazer convergir para si a atenção dos que não são suficientemente entendidos
no assunto, mas que nunca poderia torná-la recomendável aos peritos nem
determinar-lhe o valor. Há todavia nesta idéia do valor absoluto da simples vontade,
neste modo de a estimar prescindindo de qualquer critério, de utilidade, algo
de tão estranho que, a despeito do completo acordo existente entre ela e a
razão comum, pode todavia surgir uma suspeita: quem sabe se, na realidade, não
se alberga aqui, no fundo, senão uma vaporosa fantasmagoria e (395) se não será
compreender falsamente a natureza em sua intenção de conferir à razão a direção
de nossa vontade. Pelo que, propomos-nos examinar, desde este ponto de vista, a
idéia do valor absoluto da pura vontade.
Na constituição
natural de um ser organizado, ou seja, de um ser constituído em vista da vida,
assentamos como princípio fundamental que não existe órgão destinado a uma função,
que não seja igualmente o mais próprio e adaptado a essa função. Ora, se num ser
prendado de razão e de vontade a natureza tivesse como fim peculiar a sua conservação,
o seu bem-estar, numa palavra, a sua felicidade, devemos confessar que ela
teria tomado muito mal suas precauções, escolhendo a razão desse ser como executora
de sua intenção. Todas as ações, que um tal ser deve cumprir para realizar este
fim, bem como a regra completa de seu comportamento, ter-lhe-iam sido indicadas
com muito maior exatidão pelo instinto, podendo desse modo aquele fim ter sido
muito mais facilmente alcançado do que por meio da razão; e se a uma tal
criatura devesse ser concedida por acréscimo a razão, esta não deveria
servir-lhe senão para refletir sobre as felizes disposições de sua natureza,
para as admirar, para delas se regozijar e se mostrar grata à Causa benfazeja;
que não para submeter àquela, fraca e ilusória direção sua potência apetitiva,
estragando assim os planos da natureza, Numa palavra, a natureza teria impedido
que a razão se imiscuísse num uso prático e tivesse a presunção de, com suas
fracas luzes, formular para si o plano da felicidade e os meios de a alcançar;
a natureza teria tomado sobre si a escolha, não só dos fins, como também dos
meios, e com sábia previdência os teria confiado ao instinto.
É fato que, quanto
mais uma razão cultivada se afadiga na busca dos prazeres da vida e da
felicidade, tanto mais o homem se afasta do verdadeiro contentamento; donde acontece
que para muitos, e justamente para os mais experimentados no uso da razão, se eles
são bastante sinceros para o confessar, surge um certo grau de mesologia ou,
por outras palavras, de ódio da razão. Feito o cômputo das vantagens que
auferem, não digo da descoberta de todas as artes que convergem no luxo vulgar,
mas também das ciências (que, no fim, lhes aparecem como um luxo do
entendimento), verificam eles que as fadigas sofridas superam em muito a
felicidade desfrutada; (396) e, por tal motivo, comparando-se com a categoria
de homens inferiores, que de preferência se deixam guiar pelo instinto, nem
concedem à razão senão diminuta influência sobre seu procedimento, acabam por
sentir mais inveja do que desprezo deles. Importa, além disso, confessar que o
juízo de tais homens que rebaixam muito e chegam a reduzir a nada as pomposas
glorificações das vantagens que a razão nos deveria proporcionar relativamente
à felicidade e contentamento da vida, não provém de maneira nenhuma do mau
humor ou da falta de agradecimento à bondade da Providência; mas que, no fundo deste
juízo, se alberga a idéia, não expressa, de que o fim de sua existência é, de
fato, diferente e muito mais nobre, que a este fim e não à felicidade a razão é
peculiarmente destinada, e que, por conseguinte, a ele, como a condição
suprema, devem as mais das vezes submeter-se as intenções particulares do
homem.
Com efeito, dado
que a razão não é suficientemente capaz de guiar com segurança a vontade no
concernente a seus objetos e satisfação de todas as nossas necessidades (que ela
em parte concorre para multiplicar), e que um instinto natural inato a guiaria
mais seguramente a esse fim; atendendo entanto a que a razão nos foi outorgada
como potência prática; isto é, como potência que deve exercer influência sobre
a vontade, é mister que sua verdadeira destinação seja produzir uma vontade
boa, não como meio para conseguir qualquer outro fim, mas boa com si mesma;
para o que a razão era absolutamente necessária, uma vez que, em tudo o mais, a
natureza, na repartição de suas propriedades, procedeu de acordo com. fins
determinados. Esta vontade poderá não ser o único bem, o bem integral; deve
porém ser necessariamente o bem supremo, a condição donde dependem os restantes
bens, e até mesmo a aspiração à felicidade.
Neste caso, é
perfeitamente coadunável com a sabedoria da natureza o fato de a cultura da
razão, indispensável para obter o primeiro destes fins que é incondicionado, limitar
de muitos modos, ao menos nesta vida, a obtenção segundo, que é sempre um fim
condicionado, ou seja, a felicidade, até ao ponto de reduzir a nada a sua
realização. Nisto a natureza não age contra toda finalidade, pois a razão, que
reconhece que seu supremo destino prático consiste em criar uma boa vontade,
não pode encontrar o cumprimento deste propósito senão satisfação a ela adequada,
ou seja, resultante da realização de um fim que só ela determina, embora daí
redunde algum prejuízo para os fins da inclinação. [...]
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