Kratos termina GoW
II em pleno ato inescrupuloso de escalar o Monte Olimpo junto aos titãs, o fim
dos deuses parece ser inevitável. Era assim que eu me sentia até Sábado
passado. Arrogante, eu sei, mas sedento por derrotar os supostos deuses,
autoproclamados melhores enxadristas do meu estado. Me sentia como Rocky antes
de sua primeira luta contra Apollo:
“Não importa mesmo
que eu perca essa luta. Tampouco me importa se Creed abrir minha cabeça. Porque
tudo o que eu quero é aguentar os 15 rounds. Ninguém conseguiu ir até lá com
Creed. Se eu puder aguentar até o fim, o gongo tocar e eu ainda estiver de pé,
saberei pela primeira vez na minha vida que não sou mais um boxeadorzinho do
bairro.”
Era o que eu
manteria em mente ao enfrentar um cara que já é pentacampeão estadual, sem
falar em outros competidores que também já foram campeões. Tal qual Kratos, tão
próximo do que almejava, eu cai. O caminho pareceu ficar mais longo do que já
é. Em pleno Sábado, um dia antes do campeonato, após “extenso” treino e
disputas online, eis que tomo 5x0. “Mas como você não estava no auge da sua forma?”
Aparentemente não estava. Meu adversário aguentou meus melhores golpes, puxei
para outras variantes, mas era como tentar socar o Flash. Rápido e brutal, eu
fui pra lona. Não tive coragem para jogar no campeonato no outro dia, os caras
lá ainda seriam mais perigosos que o tático – com um estilo bem parecido
comigo, só que aprimorado – que havia me humilhado. No dia seguinte, outro
adversário, resultado: 6x1. Algo estava muito errado, mas meu pensamento saiu
de foco. Não deu mais para processar o que ocorria, só sentia uma profunda
raiva e desconcentração, aquela certeza interior de ser um imutável perdedor.
Na segunda-feira, eis um 4x0. Parecia mais uma recessão, a mente não
processaria tão cedo, e eu estaria próximo de uma trava como em “Um Soco no Ego”. Na terça,
perdi em posições ganhas para um oponente bem mais fraco, por 2x0. Perguntei
até ao meu tio, o por quê de tudo isso, e ele com sua cínica sabedoria apenas
me segredou: “O senhor pegou no sono e deixou o cachimbo cair. Vai querer ser
campeão sem ralar?” Foi hora de uma reforma de tudo. Havia percebido que eu
tinha explorado a abertura Ruy Lopes mais do que devia. Que havia só pautado
meu jogo nela, e por obter sucesso e desenvolver em cima, já me achava pronto.
Primeiro passo lógico foi passar no mínimo 50 partidas sem usá-la, e não
repetir nenhuma abertura de nenhuma partida para a outra. Gambito de Rei, de
Dama, Benoni, Defesa Francesa, Phillidor, Petrosian, Benoni, qualquer coisa. Foi
hora de dar um basta em partidas mais confortáveis e sólidas e buscar posições
mais perigosas para ambos os lados, para desestruturar tudo, a estilo da escola
de Paul Morphy e Mikhil Tal.O segundo passo foi
o mais difícil. Dar dois passos para atrás para poder avançar cuidadosamente
três, ou seja, diminuir o nível dos oponentes que eu iria enfrentar, encarei
como Kratos faz, primeiro deve passar por centenas de soldados mais fracos,
para chegar ao que quer.
Passo três foi o
emocional. Como o Silvio Antônio me disse, “precisamos respirar, e nos
concentrar enquanto fazemos isso.” Desse jeito, não adiantava eu ter tanto
suposto conhecimento teórico e não conseguir aplicar mais que 10% em um
combate. De quinta para cá já ultrapassei meu recorde de rating, e agora acabo
de atingir minha vitória 400. Não é muito, mas preciso comemorar. Ou melhor, dormir direito.
Off.
0 Comentários