EXCLUSIVO: Pawn Sacrifice LEGENDADO___ou___PAWN SACRIFICE, ESSE FILME REALMENTE EXISTE!!!


“Quase tudo é teoria e memorização. As pessoas pensam que existem todas essas opções, mas... Há geralmente um movimento certo. É claro, mas no final não há lugar para se ir.”

A figura de Bobby Fischer só encontra análogo entre suas mais inventivas jogadas, lances a primeira vista ilógicos, porém com efeitos estratégicos demolidores, capazes de intrigar Grande Mestres (GMs) por décadas. Tomar os feitos e autodestruições de Fischer apenas por palavras como “gênio”, “louco”, “oportunista” seria subjugar um dos maiores ícones do enxadrismo. Há uma máxima acerca do sucesso: “não se basta ter apenas obsessivo trabalho duro, há também o fator sorte”. Não a sorte milagrosa, onde um prêmio caído do céu catapulta alguém sem méritos, mas o fato dos propósitos do empreendedor serem complementares a sua época vivida. Ou mesmo, “dá o que as pessoas querem, antes mesmo delas saberem o que elas querem.”
O período de mais crescente fama de Fischer, foi entre o final dos anos 60, para o começo dos 70. Credita-se a isso ele representar – inconscientemente – os anseios e transtornos políticos dos extremos que dividiam os EUA. A existência de Fischer encoraja patrióticos conservadores pelo senso de luta contra “os inimigos”, ao tempo que revigorava liberais por suas posturas um pressionadoras contra o governo. Havia toda uma geração desiludida com o militarismo americano empreendido no Vietnam. Não por coincidência, Bobby Fischer e Muhammad Ali foram dois dos ídolos máximos da nação nos anos 70, suas escolhas os representavam como incorrigíveis, insatisfeitos, rostos famosos da “insubordinação civil”. Por um breve momento, a 3° Guerra Mundial ocorreu, uma guerra de percepção, ideológica dentro de um tabuleiro de xadrez.
Para o “pobre garotinho do Brooklin que haveria de enfrentar todo o império soviético”, se ver como o líder de uma contrarrevolução lhe era o menor dos males, visto que a maior batalha era interna, sendo o prêmio maior, sua sanidade. O pobre garotinho, haveria de aprender próximo aos seus 30 anos, em sua maior conquista, maior topo escalado, que certos vazios, são imutavelmente impreenchíveis.

A linha de raciocínio na filmagem, montada pela equipe: Edward Z wick(direção), Steven Knight e outros  (roteiros) e Tobey Maguire (em elogiável atuação) é tímida, levemente insinuante sobre causas enraizadas dos futuros problemas patológicos de Fischer. Há a inteligente intenção de deixar em xeque que toda a paranoia de Fischer não era totalmente infundada como muitos pensam, principalmente sobre monitoramento, mas logo tudo é abandonado sem desenvolvimento maior. Não há teoria completada no longa, apenas menções para não passar em branco. O comportamento de Bobby, conforme suas rachaduras psicológicas progridem se torna insuportavelmente invariável, em momentos, ele possui uma autoconfiança digna de um semideus, em outros, mais se assemelham a uma criança birrenta, invejosa e mimada nas feições de um adulto. Para discorrer sobre esse tipo de personalidade, são designados dois interessantes personagens: um advogado (inicialmente representante de Bobby, interpretado por Michael Stuhlbarg) e um reverendo (profundo conhecedor de xadrez, “treinador”, feito com esmero por Peter Sarsgaard). Há eles cabem a árdua tarefa de administrar as explosões de Fischer. O chamativo entre eles, é a respeito da contradição entre suas personalidades em relação ao que se espera dos estereótipos que carregam: o advogado é notadamente idealista, patriota e esperançoso, enquanto o reverendo é cínico, desiludido e dolorosamente realista. Antes que ambos tentem encaminhar Bobby a alguma doutrinação política ou religiosa, se vêm reféns prodígios, ficando a mercê de suas exigências terroristas em prol do “show continuar”, no caso, a permanência de Bobby no mundial, supostamente o que ele mais desejava.


Em terceiro ponto, algo exímio, embora não aproveitado totalmente: um espaço maior para Boris Spassky e seu excelente interprete Liev Schreiber, aqui não devendo nada à atores como Will Smith fazendo Ali, ou Frank Langella encarnando Nixon. Em seus poucos momentos em cena, Boris é a ameaçador de maneira natural, seu excesso de tranquilidade e postura educada o vertem em um adversário inabalável e de comportamentos antagônicos louváveis.

Fischer captura um peão envenenado.


Passado esses três pontos, resta a dura conclusão do filme carecer de ambição de representar com densidade o “mito de Fischer”. Há um excesso de cortes, fazendo com que a maioria das ações – em especial dos duelos de xadrez – sejam apresentados mais em menções jornalísticas do que em uma ação bem narrada. É um zelo advindo do tabu em se trabalhar o xadrez em tela com detalhismos, temendo deixar o filme “entediante”, é o prezar pela “narrativa enxuta”, o que acaba deixando seca... O que seria inicialmente uma proposta de guerra intelectual torna-se um preguiçoso recorte histórico – para não dizer superficial – da tensão advinda dos anos 70 nos EUA. 
No lance 42, da partida decisiva, Bobby joga de negras e encurrá-la de maneira histórica Spassky.

Pawn Sacrifice” se tornou uma mescla falha entre dois grandiosos filmes de Ron Roward:Uma Mente Brilhante” e “Frost X Nixon”, são notórias as falhas em se trabalhar de maneira duradoura os problemas psicológicos, bem como falha-se em criar um terreno que passe longe de artificial para um embate histórico. Quem assistiu ambos os filmes vai notar essas semelhanças, embora a maior “semelhança” de todas seja com o documentário “Bobby Fischer Contra o Mundo”, não parece haver pudor em transcrever parte do texto de lá para o filme. Preocupações tomadas, reforço, com o “público civil” ao xadrez, o que mostra-se um erro feio, perdeu-se a chance em realizarem o melhor filme sobre xadrez já feito. 
Nota: 6.4

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