Texto escrito por: Silvio Antônio.
Jogar xadrez é muito mais do que
somente saber mexer as peças; isso é fácil; porém, elaborar uma estratégia e
saber utilizar as táticas de ataque ou defesa, é onde se mostra quem realmente
se dedica ao estudo desta ciência de guerra, ou seja, é onde se deixa o
brinquedo de criança e se mostra no tabuleiro que já compreende que na vida
também tem lutas e aquele que está preparado, sabe utilizar melhor seus
recursos, reconhecendo sua inteligência como a melhor arma que a natureza lhe
proporcionou.
“Não desista; nunca pare de lutar!”
1#(2x4) = 7r.5R1c.6P1.8.8.1p.2p5.8 = ?
Quando elaborei esta composição,
estava pensando naquelas batalhas difíceis e de grandes investimentos das
nossas forças, recursos físicos e emocionais, como também de esforços dos
nossos colaboradores e amigos; então quando tudo parece perdido e o nosso
inimigo está com grandes possibilidades de vitória e até mesmo o poder de nos
humilhar (Cavalo h7; peões c2 e b3.); então
sacamos aquele pequeno canivete ( peão g6); e com um movimento correto e perfeito
alcançamos a vitória que ninguém esperava.
O
xadrez tem essa possibilidade artística de representar situações de conflito
que atravessamos em nossas vidas reais; é claro que o “mate em um” são os mais
fáceis de elaborar e resolver, porém quando estive em uma situação dessas no
ano de 2004, e quando encontrei a solução muita coisa mudou em minha vida; por
isso elaborei esse; #1, que é uma lembrança... mas, não estou aqui
para falar de minha vida e sim, sobre esta forma gostosa de estudar xadrez que
é pelas composições problemas.
A composição enxadrística
é a arte de criar problemas de xadrez; os problemas de xadrez são
tão antigos quanto o próprio jogo de xadrez, ocupando um posto importante na história do jogo que durante séculos seguiu a evolução do
nobre jogo adotando suas peças e regras, tanto antes como depois das
transformações que tiveram lugar no decorrer do “Renascimento".
A pessoa que elabora estes problemas recebe o nome de
problemista ou compositor; e as composições problemas
são os desafios, que proporcionam oportunidades para desenvolver o raciocínio e
a habilidade para combinar peças de modo a definir uma estratégia para chegar
ao xeque-mate em um determinado número de lances.
Existem varias categorias; vejamos algumas: Os “problemas de mates diretos” onde
as brancas jogam e dão mate nas pretas em um número estipulado de lance. “Os Estudos” que são composições onde as brancas jogam e
devem ganhar ou empatar. Os “ finais teóricos” onde, estes podem possuir várias formas de ganhar ou empatar e na maioria
das vezes há um método a ser empregado para resolver um final teórico. Os “inversos”
onde as brancas jogam e forçam as pretas a dar-lhes mate, enquanto as
pretas tentam impedir que isto aconteça. A “análise retrogada” é um tipo
de problema que deve-se pensar nos movimentos anteriores, retornando os
movimentos até chegar em uma situação proposta. Os “ajudados” que
formam um mundo à parte das outras categorias de problemas de xadrez; no mate
ajudado que é a única forma de composição onde os dois lados colaboram para a
execução de um objetivo comum, que é o mate ao rei preto; em geral as pretas
executam o primeiro movimento, portanto um problema de mate ajudado em dois
lances possui 4 movimentos: dois movimentos das pretas e dois dois movimentos
das brancas.
Os requisitos necessários a uma boa composição são:
·
Deve
haver uma ideia ou tema na execução do problema. Ou seja, é desejável que haja
coerência e coesão entre as distintas variantes de um problema direto.
·
Idealmente
esta ideia deve ser surpreendente, original e bem executada.
·
As
defesas das pretas devem levar a mates no mesmo número de lances. (ou seja, em
um problema de mate em 3 não pode haver uma defesa das pretas que leve mate em
4 lances). Em problemas sem ameaça, ou de zugzwang, todos
os movimentos das pretas devem levar mate no mesmo número de lances.
·
Em
ajudados curtos, de dois ou três lances, é muito comum haver mais de uma
solução ao problema. Nestes casos o compositor busca promover a harmonia de
efeitos mecânicos e estratégicos entre as soluções do problema, valorizando
ainda mais a composição.
·
Não
deve haver peças supérfluas ou desnecessárias à execução da ideia de um
problema. Todas as peças devem ter uma função definida, ainda que esta função
seja apenas evitar defeitos ou furos na composição.
·
A
solução de estudos não tem um número estipulado de movimentos, como em
problemas diretos, inversos ou ajudados, porém deve haver apenas uma forma de
cumprir a estipulação do estudo nas variantes principais.
·
Já em
um estudo a solução deve ser única, deve haver uma ideia central governando a
composição e a ideia da solução deve ser original.
Para exemplificar escolhi dois
clássicos: primeiro o próprio Machado de Assis; fundador do primeiro clube de
xadrez no Brasil; com um “#2”.
Também um “#3”; atribuído ao Papa João
Paulo II, o “JP00” que tem uma interpretação própria e muito interessante.
Na revista carioca “Xeque”, em
julho de 1947, o saudoso problemista mineiro J. B. Santiago publicou uma página
denominada “Ramalhete de Saudades”, destacando alguns trabalhos daqueles que
foram, segundo sua expressão, “semeadores do passado, que transformaram nossos
tabuleiros em roseirais da poesia do xadrez”; desse ramalhete, a composição
problema ao lado, de autoria de Machado de Assis, no qual “As brancas jogam e
dão mate em dois lances”.
(8x6)#2= 4B1RD.1p2r2C.1P2p3.2Pp1p2.3P1P2.8.1c6.8. Vez branca.
É bom considerar nesta
composição problema a circunstância de ter sido feita numa época em que o
xadrez no Brasil ensaiava os primeiros passos e, mesmo assim, conseguiu atrair
a sensibilidade e inteligência do genial Machado de Assis!
No outro exemplo quero mostrar o
simbolismo que percebe-se ao resolver o problema de três lances. Curiosamente todos os problemas do
Papa João Paulo II, que vieram à público nas revistas: “Europe Echess” e “The
Problemist”; são de Bloco. Coincidência ou não, trata-se da negação total à
violência.
Simbolismo do “JP 00”.
(7x2) #3 =
8.p1P5.T2P4.P7.rPB5.2R5.8.8.
ü Bispo (c4), imóvel durante toda solução, permanece ao lado
do Rei demonstrando que, apesar da individualidade do Estado e da Igreja, ambos
podem (e devem) atuar “lado– a– lado” em favor do bem.
ü Logo no primeiro
lance, o peão (c7), símbolo incontestável das
classes mais humildes da sociedade, avança para a sua promoção que por sua vez,
representa a esperança de dias melhores e ascensão social.
ü A promoção à Cavalo,
peça de menor força após o peão, indica que as conquistas devem ser graduais,
ao contrário da riqueza fácil e instantânea ilícita ou não; proporcionada pelas
sociedades de hoje e de ontem.
ü Enquanto o peão
promovido sacrifica a própria vida; retrato fiel da realidade, o outro (a5), realiza o lance derradeiro, mas não leva a
glória; é a Torre (a5); quem dá o mate.
ü Sem duvida são os
peões os mais injustiçados, pois são fiéis às causas do bem até as ultimas
consequências, mas nem por isso, seu valor é percebido por todos.
ü Por fim, as forças do
bem vencem sem sequer levantar “um dedo” contra seu adversário: 1.c8=C nada
ameaça mas as negras não tem opção ( o mal não tem livre arbítrio); e jogam
forçadamente 1. ... Ra3. Novamente, as brancas jogam 2.Cb6 oferecendo a própria
carne que o mal não pode recusar; o lance 2. ... axb6 é forçado e fatal, pois
possibilita o arremate 3.axb6#
ü O mal perde por si
só, por seus próprios atos. É a sua natureza!
Assim, deixo para vocês; essa
composição que é uma arma tática da analise posicional
(10x12)#5=t3rb1t.1pp3p1.p3bp1p.5d2.3DC3.1P6.PBP3P1.3TT1R1. Vez branco; mate em
5 lances; e quem gostou deixar seu comentário ou no email : slsefamilia@hotmail.com
Bom estudo...
Força, Graça e Paz!
Até a próxima.
Fontes
de Referencia:
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