Não é difícil encontrar casos de crianças selvagens ou mais conhecidas como crianças "Mogli". Temos até na ficção e lendas que contam essas tristes histórias. A principal característica dessas crianças é que elas não tiveram contato algum ou tiveram pouquíssimo contato com humanos, porém tiveram muito contato com animais. Listei aqui 20 dos mais impressionantes casos, confira:
O menino pássaro - Vanya Yudin foi encontrado em 2008 na cidade de Volgogrado, na Rússia. Na época ele tinha 7 anos de idade e vivia num pequeno apartamento cheio de gaiolas de pássaros que sua mãe criava. Apesar de nunca ter sofrido agressões e nem ter passado fome, Vanya era ignorado pela mãe e só podia conversar com os pássaros. Ela o tratava como sendo um pássaro de estimação. Os assistentes sociais que o resgataram logo perceberam que a única coisa que ele sabia fazer era piar e abanar os braços, principalmente quando se sentia ameaçado ou mal compreendido. O "menino-pássaro" acabou sendo recolhido, passou por uma terapia para aprender a falar e a mãe foi processada.
Rochom atualmente. |
A menina sumida - em 2007, um homem da Província de Ratanakiri, no Camboja, percebeu que alguns alimentos tinham sumido de uma caixa. Ele e seus amigos entraram na floresta local para caçar o animal espertinho e encontraram o improvável: uma mulher de 29 anos. Levada à polícia, logo foi reconhecida por um dos policiais que era inclusive seu pai. Uma cicatriz nas costas foi a prova. Era Rochom Pn’gieng, a garota que tinha sumido há mais de 10 anos atrás. Segundo ele, aos 8 anos de idade ela e sua irmã mais nova tinham se perdido na floresta enquanto pastoreavam búfalos em 1979. A mulher parecia entender o que falavam para ela, inclusive obedecia ordens e comandos. Apesar de ser submetida à adaptação, ela apresentou muita dificuldade em se ajustar à vida civilizada e acabou fugindo de volta pra floresta. Foi recapturada e novamente integrada à sociedade. Agora ela vive com os pais em casa mesmo, mas se dá melhor com as crianças de seu vilarejo, com as quais aparentemente se sente muito mais segura.
As meninas lobo - em 1920 um padre chamado J.A.L. Singh encontrou duas crianças, uma com 3 e outra com 5 anos de idade, vivendo entre uma alcatéia de lobos na floresta de Midnapore, na Ìndia. Amala e Kamala, como foram chamadas depois, eram duas meninas que tinham sido criadas por lobos e que não falavam, mas emitiam grunhidos e rosnados. Também gostavam de comer carne crua e andavam de 4. Elas chegaram a ter terapias de adaptação, mas infelizmente Amala morreu após um ano e Kamala após 9 anos. Kamala chegou a ter um vocabulário um pouco mais extenso que o da irmã que incluía cerca de 50 palavras.
Criada por cães e gatos - Natasha Mikhailova foi encontrada em uma casa na cidade de Chita, na Sibéria, em 2009. A garota de 5 anos era negligenciada por seus pais e chegou a ficar 2 anos inteiros sem contato algum com eles. Os cães e gatos da casa praticamente a criaram e por isso ela latia, rosnava, arranhava a porta e pulava. Também tinha a mania de buscar atenção como os animais. Ninguém sabe como ela sobreviveu aos rigorosos inversos siberianos. Segundo a mãe, o pai pegou a garota e sumiu com ela quando era bebê. O pai na verdade tinha trancado Natasha numa casa em péssimo estado onde ele e seus pais moravam. Os vizinhos nem sequer sabiam que ela estava lá. Quando os policias chegaram para resgatá-la, o homem tentou lutar e impedi-los, mas acabou preso. A mãe também foi presa, suspeita de negligência. Os animais tentaram protegê-la dos policiais e depois de muita luta eles conseguiram pegá-la de volta. A menina foi submetida à terapias de adaptação, mas apresentou uma enorme dificuldade. Os especialistas afirmam que ela não tem problemas mentais, mas precisa de muita terapia para aprender a lidar com humanos.
John atualmente. |
O menino macaco - John Ssebunya fugiu com 4 anos de idade para a floresta na Uganda depois de ver o próprio pai matar a mãe. Um bando de macacos acabou acolhendo John. Em 1991 ele foi finalmente encontrado por Millie, uma mulher que fazia parte de uma tribo local. Os macacos do bando tentaram impedir o resgate e o garoto também tentou resistir. O garoto tinha ferimentos por todo o corpo e vermes nos intestinos. Ele nem sequer sabia falar e chorar. Sua readaptação foi tão bem sucedida que ele aprendeu a falar, andar e até cantou no coro infantil "Pearl of Africa". Ele tem uma vida completamente normal agora. Sua história virou um documentário da BBC de 1999.
O menino cão - Andrei Tolstyk foi resgatado com 7 anos de idade em 2004 na Sibéria. A mãe o deixou com o pai alcoólatra e inválido aos 3 meses de idade. Não demorou muito pra que o garoto acabasse negligenciado pelo pai também. O cachorro da casa acabou criando o menino. Ele sabia latir, andar de 4, morder, farejar e tomar água como um cão. Depois de ser resgatado, passou por terapias e vive bem em um orfanato, onde já fez até amizade com uma garota e fala com ela por linguagem de sinais.
A menina cão - Madina teve uma história bem parecida com a de Andrei. Sua mãe era alcoólatra e a abandonou com os cães. Foi criada por eles até ter 3 anos de idade, quando finalmente foi encontrada. A essa altura ela só sabia falar "sim" e "não", além de latir como um cachorro. A mãe Ana comia na mesa, mas deixava que a filha disputasse a comida com os cachorros. Ana também ficava fora de casa por dias para beber, largando Madina com os cães que a aqueciam durante os rigorosos invernos russos. Ao ser presa, a mãe alegou que cuidava bem da menina. Como era muito nova, sua adaptação foi bem mais fácil e acredita-se que Madina poderá levar uma vida normal quando crescer.
O menino ovelha - um garoto da Irlanda do Sul fugiu de casa quando criança e um rebanho de ovelhas selvagens o acolheu. Muitos anos depois, em 1672, encontraram o menino, agora com de 16 anos, preso em uma armadilha. O incrível é que ele estava completamente saudável e musculoso, mesmo só comendo capim. Foi levado para Amsterdã, na Holanda, e o Dr. Nicholas Tulp o acolheu. Infelizmente o garoto nunca aprendeu a falar e só sabia berrar como uma ovelha.
O menino anfíbio - em 1973 Ramachandra foi encontrado no rio Kuano, na Índia. Três anos mais tarde foi capturado por moradores de um vilarejo próximo que também tentaram adaptá-lo à vida civilizada, mas o garoto nunca conseguiu. Ele pulava como um sapo e passava horas olhando para o rio. Pegava a comida crua sem as mãos e não falava. Em 1982 ele tentou abordar uma mulher e, assustada, ela jogou água quente no corpo dele. Acredita-se que estivesse tentando copular com ela. Muito ferido, Ramachandra não resistiu e morreu.
O menino leopardo - em 1938 um inglês encontrou um menino vivendo com um leopardo fêmea e seus filhotes nas montanhas de Cachar, ao norte da Índia.O garoto estava desaparecido há 5 anos. Foi devolvido à sua família, mas era parcialmente cego. O incrível de tudo é que ele conseguia identificar as pessoas e os objetos com a ajuda de seu olfato super desenvolvido.
Tarzan da vida real - William Mildin sobreviveu a um naufrágio na costa oeste da África em 1868. Ele tinha 11 anos de idade e acabou sendo criado por macacos por 15 anos. Quando finalmente foi descoberto e resgatado, foi levado à Inglaterra e identificado como William Mildin, o 14º conde de Streatham. Muitos acreditam que essa história tenha inspirado a do Tarzan.
O menino urso - em 1661 um grupo de caçadores encontrou um garoto vivendo entre ursos numa floresta da Lituânia. O garoto agia como um urso e sua captura foi difícil porque ele se debatia e arranhava ferozmente. Depois de ser resgatado foi levado a Varsóvia, na Polônia, e readaptado. Ganhou o nome de Joseph. Apesar de tudo, ele ainda preferia comer carne crua e pastar na grama, mas aprendeu algumas palavras. Acabou virando empregado de um nobre polonês e ficou assim até sua morte.
A menina urso - depois de atacar um urso em Fraumark, na Hungria, em 1767, dois caçadores foram surpreendidos por uma garota de 18 anos musculosa, alta e muito agressiva. Acredita-se que ela tenha sido criada pelos ursos desde criança. Apesar de ter sido capturada, se recusou a se readaptar, ou seja, insistia em comer carne crua e casca de árvores e não usava roupas. Acabou sendo internada num asilo.
Uma foto recente de Oxana. |
A mulher cachorro - Oxana Malaya nasceu em 1983 na Ucrânia. Ambos os pais eram alcoólatras, expulsaram-na com 3 anos de casa e a menina acabou sendo criada por cachorros selvagens numa cabana próxima da sua casa, em Novaya Blagoveschenka. O mais chocante da história não é somente o fato dela ter sido criada por cães, mas por ter chegado à idade adulta nessa mesma condição. Latir, andar de 4, rosnar, farejar e comer sem as mãos são hábitos que ela aprendeu, apesar de saber dizer "sim" e "não" quando necessário. Os cães a protegiam com tanto primor que os policiais tiveram dificuldades para resgatá-la. Sabe-se que ela tem sentidos incrivelmente aguçados como audição, visão e olfato, porém o isolamento da menina acarretou numa certa incapacidade mental, ou seja, ela tem o intelecto de um cão e não de um humano. Acabou sendo internada num lar para pessoas com problemas mentais, muito embora agora consiga falar e andar como um ser humano comum.
A garota Mogli - Marina Chapman nasceu na Colômbia. Em 1954, aos 5 anos de idade, ela foi sequestrada e, mesmo tendo o resgate pago, foi abandonada na floresta. Um grupo de macacos-prego a acolheu e a criou por 5 anos até ser encontrada por caçadores. Estes a venderam para um bordel em Calcutá, mas ela conseguiu escapar e virou uma espécie de escrava de uma máfia local, vivendo nas ruas. Por fim foi resgatada com 14 anos por uma mulher chamada Maruja, que a adotou e a readaptou à vida civilizada. Aos 20 anos viajou ao Reino Unido e conheceu John Chapman, com a qual se casou um tempo depois e teve 2 filhos. Hoje ela vive bem, mas só contou sua história depois de casada e até escreveu um livro chamado “The Girl With No Name” ou em tradução livre “A garota sem nome”.
O chileno fugitivo - Axel Rivas foi resgatado do mar em 2001 por policiais enquanto tentava fugir. Ele estava morando numa caverna com cães selvagens no Chile. Depois de ter uma infância conturbada e ser abandonado pelos pais aos 5 anos, Axel já tinha fugido de muitos orfanatos. Aos 8 anos, fugiu do último, onde também era maltratado, e se escondeu numa caverna. Ali encontrou uma família de cães que o acolheu, o alimentou e o protegeu. Quando foi finalmente encontrado, apresentava comportamentos agressivos e depressivos. Como comia restos de latas de lixo de uma cidade próxima, seus dentes estavam totalmente podres. Apesar de ter sido levado para outro orfanato, ele escapou de novo e até hoje não foi encontrado.
O romeno perdido - Traian Caldarar fugiu de casa depois que sua mãe abandonou a família por causa da violência doméstica que sofria por parte do pai do garoto. Na época ele tinha 4 anos. Foi encontrado aos 7 em Brasov, Romênia, por um pastor cujo carro tinha quebrado e enquanto andava pela estrada flagrou o garoto tentando comer um cachorro morto. Por causa da desnutrição tinha o tamanho de uma criança de 3 anos, raquitismo, feridas infectadas e má circulação. Ele se abrigava numa caixa de papelão e se cobria com um lençol velho. Acredita-se que cães vira-latas o tenham mantido vivo. Foi levado e passou por terapia. O garoto às vezes dormia sob sua cama e ficava irritado se não fosse alimentado. Seu avô agora tem sua guarda e o garoto, já adaptado, frequenta até a escola. Quando perguntaram o que ele achava da escola, esta foi sua resposta:
"-Eu gosto daqui, de colorir, de brincar e aprender a ler e escrever. Temos brinquedos, carros, ursos de pelúcia e a comida é muito boa!".
Traian aos 17 anos. |
Atualmente tem uma vida completamente normal.
O indiano lobo - Dina Sanichar foi encontrado aos 6 anos de idade em 1867 por caçadores na floresta de Bulandshahr, na Índia.Os caçadores disseram que viram alguns lobos correrem para uma caverna e que estavam sendo seguidos por um garoto que corria de 4. O garoto passou por um tratamento praticamente "primitivo" que consistia em que ele trabalhasse com outras pessoas e convivesse o máximo possível com elas para que inibisse aos poucos seu comportamento selvagem. Deu mais ou menos certo. Ele conseguiu aprender a andar e comer, mas nunca a falar.
O menino bode - Sasha T foi encontrado em 2012 numa casa cheia de bodes em Rostov, Rússia. Negligenciado pela mãe, Sasha acabou sendo acolhido pelos bodes. Não sabia falar, andar, comer como um ser humano, andava nu e tinha muito medo de adultos. Ainda por cima era desnutrido e de alguma forma estava conseguindo sobreviver ao frio extremo. Era uma criança muito agressiva e por causa do isolamento não teve desenvolvimento cerebral adequado. Sasha não sabia nem sequer o que fazer com brinquedos. Atualmente está passando por terapia de adaptação e a guarda foi tirada da mãe, que também está sendo processada pelo governo russo.
Menino Selvagem de Aveyron - também conhecido como um dos primeiros casos de suspeita de autismo documentados. Em meados do século XVIII algumas pessoas viram Victor vagar pela floresta de Saint Sernin sur Ranc, no sul da França. Chegou a ser capturado, mas fugiu. Foi capturado novamente um tempo depois e acredita-se que tinha cerca de 12 anos de idade e que tenha vivido por pelo menos 7 anos na floresta. Por fim foi levado a uma cidade próxima e assim que a notícia se espalhou, vários médicos e estudiosos da Europa vieram vê-lo. Entre eles estava o biólogo Pierre Joseph Bonnaterre que despiu o garoto e o deixou do lado de fora, na neve. Victor começou a correr em círculos, mas não demonstrou em momento algum dificuldades em manter sua temperatura e nem queimaduras por causa da neve. Roch-Ambroise Cucurron Sicard tentou ensinar o garoto a falar e realizar outras tarefas, mas logo desistiu por não ver nenhum progresso. Apesar de ter nascido com habilidades de ouvir e falar, a vida selvagem não permitiu que ele desenvolvesse essas habilidades da forma correta e também é por isso que muitos acreditam que ele tenha sido um dos primeiros autistas documentados do mundo. Acabou sendo enviado para o Instituto de Surdos e Mudos de Paris, onde viveu com Mme Guérin até sua morte, aos 40 anos de idade.
Na mitologia
Rômulo e Remo - filhos de Reia e do deus Marte, acabaram sendo sequestrados e aprisionados por inimigos de seus pais. Foram jogados depois em uma cesta no rio Tibre e uma loba os encontrou nas margens. Os gêmeos foram criados e amamentados pelo animal até que o pastor Fáustulo os encontrou. Rômulo viria a se tornar mais tarde o fundador de Roma. A figura de Rômulo e Remo sendo amamentados pela loba é um símbolo comum e encontrado em diversas partes da cidade de Roma atualmente.
Na fantasia
Tarzan - depois de sofrer um naufrágio, uma família de aristocratas ingleses foi parar numa ilha. Os pais foram mortos, restando apenas Tarzan. Ele é então criado por macacos da floresta. Tarzan é um homem com habilidades extraordinárias e tem um porte atlético. A história foi criada por Edgar Rice Burroughs em 1912 e tem diversos livros, HQs e filmes a respeito. Há suspeitas de que o autor tenha se inspirado numa história real, mas tal história nunca foi provada. A história foi adaptada pelos estúdios Disney.
Mogli - é um garoto indiano criado por uma alcateia de lobos. Foi criado por Rudyard Kipling em 1894 e publicado no "Livro da Selva" (Jungle book) que no Brasil acabou saindo como "O Livro da Jângal". Mogli é um personagem muito conhecido entre escoteiros, principalmente no que se refere às normas de sobrevivência. A história também foi adaptada pelos estúdios Disney.
Felizmente não encontrei nenhum caso documentado no Brasil, então se você souber de algum caso nos diga pelos comentários. Alguns dos casos acima tem sua veracidade contestada e a grande maioria dos casos recentes não tem mais informações da atual situação das crianças resgatadas. A adaptação dessas crianças e jovens costuma ser muito difícil e requer muito tempo e paciência, mas nem sempre dão certo como foi possível observar. De qualquer forma vale ressaltar que a grande maioria dessas crianças sofreu abandono e descaso por parte dos pais e aí surge a polêmica: afinal nossa personalidade e caráter são criados pela sociedade ou é algo natural? Tire suas próprias conclusões.
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