ESTAMOS NO VENTO


Para se falar da situação atual da exibição cinematográfica em Maceió, e ser um tanto afoito, não se pode esquecer de cara exatamente com um sujeitinho apavorado, sempre irritado, consumidor declarado de calmantes e aspirinas. Ele atende pelo nome de cretino, crítico de cinema, neurótico, consumidor... Espalha a maldição altissonante de que todos são culpados. Mas, por outro lado, não se pode deixar de remarcar a função do crítico, segundo as más línguas, é resumida na maioria das vezes, em desabonar a produção que 99,99% dos espectadores adoram de todo o coração. São exatamente essas produções que fazem as filas nas bilheteria dos cinemas, arrastando indiscriminadas multidões.  Os exibidores, confiantes em sua função de mediadores, dizem: “Damos o que o espectador gosta. Os críticos, ou uma minoria elitista de visionários, se querem ver os filmes que preferem, construam um cinema particular, ora! Hollywood faz um esforço enorme para vencer a concorrência da televisão e lança um apelo dramático a uma técnica sofisticadíssima para montar Network / Rede de Intrigas, mas os críticos caem em cima. O que eles estão querendo, afinal?
Nessas alturas, alguém pode estar perguntando o que eu estou fazendo aqui. Espero estar fazendo uma crônica, ou um registro, com a intenção de rebater numa tecla já muito batida. Hoje em dia, as preferências individuais são rechaçadas ao nível do grupo pela conquista de uma linguagem massificada, tal como se pode avaliar à luz das teorias machuhanianas: o mundo é uma aldeia global onde um jargão típico, eivado de reprodutividade, se faz mais presente e relevante. A linguagem do cinema é uma daquelas obsoletas, pelo fato de se fazer ausente os mecanismos comuns, dos expediente vulgares de expressão? Não. A reificação da técnica transformou essa linguagem em joguete, após a entrada na nossa feliz amiga, a televisão. Depois de tudo isso, as pessoas que pensam para além do principio do prazer, e se atêm aos valiosos dados da realidade, vêm me perguntar o que está acontecendo com o cinema. Sei lá! Parece-me, entretanto,  o seguinte: aqui ele está levando a pior em relação aos supermercados. Um promissor festival da United Artists nos trouxe apenas um momento de alívio com Esta Terra é Minha Terra / Bound For Glory, de Hal Ashby. Com promessas iguais a essa, o destino de todos nós elitistas, moicanos, será o de nos deslocarmos para as cinematecas ou casas exibidoras com uma platéia de 200 lugares no máximo, sujeitos a pagar – com a razão de quem cobra – um preço exorbitante pela entrada. A população dos futuros cinéfilos,   aqui, será composta de criaturas excêntricas, de pessoas que procuraram reescrever, 80 anos após, o roteiro de Casablanca, filme devorado pelas traças, relegado a um museu, para guardar numa gaveta escondida num armário embutido.


1Publicado originalmente no jornal Gazeta de Alagoas, edição de 3 março de 1979.



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