Daqui a algumas
horas será o meu aniversário, vou fazer 21. “Parabéns”, o Sr pensa ou
diz sem titubear, e eu pergunto: pelo quê? Antes de tudo eu
aviso: esse texto foge em boa parte da temática do blog, é mais um texto feito
na intenção de chegar há algum significado além do obvio sobre se ficar mais
velho enquanto se comemora com um bolo. Para começar: existe sempre uma
comemoração demasiada das pessoas, hoje eu vejo o mundo como um lugar
onde melhor do que comemorar, é comemorar com resultados. E
algo que é bom saber sobre mim, caso não tenha reparado, é que eu sou um
moleque pretensioso, e infelizmente inquieto insuficientemente para fazer algo
significante na vida.
Leio e assisto
coisas como Muhammad Ali ser um profissional nocauteando
campeões fazendo todos engolirem suas palavras, Garry Kasparov se tornando
o melhor enxadrista do mundo, vencendo a própria Rússia envenenada pela
ditadura comunista, Arnold Schwarzenegger fazendo o impossível
ao sair de um buraco de lama para os EUA e tornando o melhor fisiculturista de
sua época, Garth Ennis assumindo Hellblazer,
fazendo histórias tão geniais que após mais de 20 anos elas ainda não foram
superadas... O que eles tinham em comum? A minha idade. Essa idade tão
subestimada com o argumento vazio de “ta muito novo, a vida nem começou
direito”, discordo totalmente: Grandes mentes já sabem o que
querem logo que começam a ligar os pontos nas tarefinhas do maternal,
e crescem se enraizando naquilo até se tornarem grandes exemplos para a
humanidade. O problema é justamente eu não ser assim, e sim uma múltipla
personalidade onde a cada dia eu acordo querendo fazer e ser
algo, desenhista, roteirista, enxadrista, fisiculturista, boxeador, diretor,
ator, professor, ilusionista ou mesmo na maioria dos dias apenas um otário que
gostaria de ficar dormindo e passar umas duas semanas trancado
em casa sem ver a luz do dia, apenas vendo bons filmes, lendo minhas HQs
e tentando desenhar umas sem ver a cara de ninguém, como eu
conseguia antigamente... Pois é, eu tenho 20 (ou 21, depende da hora), e sabe
como quem eu mais me identifico? Não com Batman, Constantine, Homem-Aranha ou
Ozymandias, mas com Ulisses: lá no fundo, eu sei que meus próximos anos serão
longos, que eu vou passar por grandes desgraças em guerra interrupta, para como
prêmio final eu conseguir esse aparente simples prêmio do meu espaço de
volta. E consequentemente a vida perder o sentido e eu virar um Fury da vida, na procura de
outra guerra para se viver. Afinal o que queriam? Se a vida não fosse um
paradoxo do ser humano com desejos não realizáveis, Deus ou quem criou tudo, já
teria se entediado com tudo;
Hoje eu até
discutia com um colega no trabalho sobre o quanto nós devemos respeitar
aqueles que realmente sustentam o que dizem, como no caso do Muhammad Ali,
o que ele fez em não servir o exército eu discordo em grande
parte, mas estaria mentindo se dissesse que não tenho um profundo respeito pela
atitude viril dele de jamais ceder às escolhas que fez. É isso
que eu tento seguir na vida, eu sei que é impossível viver sem recuos,
muitas vezes chega-se em situações extremas onde ou se recua ou se perde tudo o
que conquistou, mas é por tal, que eu luto todos os dias. Sabe a “ira
passageira da juventude”? Ainda considero um mito, quem realmente se indigna de
verdade pela injustiça que vê, jamais vai dar as costas ao certo. O
que eu estrou aprendendo “precocemente” é que existe o reclamar e o
estar contra e não participar, hoje enxergo que reclamar do que
inquieta a vida, seja no trabalho, amoroso ou qualquer outro é papel de
mimadinho que sai na chuva sem querer se molhar, que quer viver a vida
sem nenhum arranhão, no extremo cuidado, hoje eu vejo e agradeço por cada
ensinamento que me foi passado, tenham tirado vantagem de mim ou não, assim
como agradeço por cada um a que me foi e é inimigo, pois esses
justamente me mostraram o que eu sempre vou me esforçar para não ser:
Vagabundo, covarde, mentiroso fluente e ladrão. Hoje mais velho eu peço que
essa gente se multiplique, para que eu possa ter o prazer de esmagar um
por um, porque pedir por pessoas mais conscientes, nacionalistas e honestas
nesse país é pedir demais, e com o passar dos anos, dessa fantasia eu vou
desistindo.
Se você
conseguiu ler até aqui, o que eu quero dizer, é que parabênizações só valem a
pena, quando se a algo a parabenizar, e eu estou tendo a sinceridade de dizer
que hoje ainda não há, pelo menos não da minha parte, mas você que lê isso pode
fazer algo melhor: Me ensinar. Porque lições são a essência da
vida, são seus prêmios, incentivos, moldadores. Em vez de colocar um
“parabéns”, me conte uma história da sua vida nos comentários, passe adiante
algum conhecimento, e acima de tudo: pare de se acomodar com o pretexto de que
“tudo estar como Deus quer”. Comece a buscar como eu, motivos de verdade para
comemorar, e quem sabe, um dia vamos cantar parabéns para algo significativo, e
não só como mais um ritual ridículo para dar a falsa sensação de que as pessoas
lembram umas das outras.
Força e honra.
PS: Segue em
anexo uma história fechada do Constantine para download,
mostrando o dia que ele fez 40 anos. Me sinto como ele no discurso inicial.
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