Mark Millar é um gênio filho da puta.
Mark Millar que ao assumir The Authority na esteira da fase Warren Ellis/Bryan Hitch, situação em que qualquer outro teria abaixado a bola e feito um material totalmente ofuscado pelo brilho do que veio antes, pelo contrário, aprofundou temas que Ellis apenas arranhou, ampliou tudo, aumentou as vendas, atraiu atenção da mídia não especializada e conseguiu ser demitido pelo tom da série estar "excessivamente provocador". E ainda se vingou da censura que recebeu mudando-se para a editora rival e lá criando The Ultimates, uma clara alusão ao The Authority ao qual impedido de dar seguimento, e ainda escalando o mesmíssimo Bryan Hitch para a arte, só de sacanagem.
Mark Millar que nos deu Os Supremos, conquistando a simpatia de muita gente que até então tinha repulsa pelos Vingadores, criando praticamente do zero uma imensa legião de fãs para Homem de Ferro, Hulk, Thor e Capitão América e iniciando todo o hip em torno da marca, que evoluiu até a realização do filme, e consequentemente de todo o universo cinematográfico da Marvel, de Robert Downey Jr. aos Guardiões da Galáxia.
Mark Millar que deu uma senhora chacoalhada na indústria com a sua histórica Guerra Civil, lançando as vendas à estratosfera, "bagunçando" o status quo de séries que tínhamos como sólidas e imutáveis, fazendo leitores arrancarem os cabelos de tanta ansiedade e, no fim de tudo, nos lembrando que tudo isso tido então como novíssimo tencionava apenas ser um retorno ao tom da fase 1960 de Stan Lee, que originalmente mostrava interações bem menos amistosas entre os heróis da Marvel.
Esse Mark Millar. Esse cara é um gênio filho da puta. E ele nos deu Chosen: O Escolhido, uma mini sinistra de fazer arrepiar os cabelos da careca de Charles Xavier.
Nossa história começa num dia comum, onde um moleque vira pra mim e pergunta se eu já li Chosen. Minha resposta é que, sinceramente, nunca me pareceu interessante o suficiente para merecer ser lido. E ele me responde "Cara, acabei de ler! De arrepiar! Um final que te faz fechar livro e falar 'gênio filho da puta'!". Fiquei encucado. Sem chegar a botar muita fé, resolvi conferir. Vamos nessa, vamos ver o que é que a baiana tem. E então li. Cara! Não, prestenção, CAAAAARAAA!!!!!
Era uma vez um menino comum que descobre-se numa situação deveras incomum. Mark Millar estufa o peito, chuta o balde e nos presenteia com um conto estranho e incomum, absurdo e maravilhoso, inquietante e cativante. E eu que tinha achado Procurado bom. Chosen: O Escolhido (ou American Jesus) coloca Procurado no bolso.
O início talvez lembre um pouco a história do Thor em Os Supremos. Pois acredite, a semelhança é meramente superficial, aqui o buraco é bem mais embaixo. Alguém falou que The Authority tinha um tom "excessivamente provocador"? Bem, e o que dizer dessa aqui, então?! Era uma vez um menino que descobre ser a reencarnação de Jesus Cristo. Só. Sentiu a pancada? Agora se você se sentir incomodado ou desconfortável, achar que a escolha do tema é de mal gosto e desrespeitosa, dizer que leria a mesmíssima história, mas preferia que o menino fosse a reencarnação de Hércules ou de Thor ou de Hórus, aquiete-se, tranquilize-se, isso é tudo o que esse louco demente do Mark Millar quer que você pense e sinta. Acredite, essa reação indica apenas que você se encontra mentalmente são. O mesmo talvez não possa ser dito de Mark... Ou será que pode, depois daquele final? Cara, aquele final...
Peter Gross assina a arte e é o ponto fraco do projeto, que de resto, é impecável. A arte de Gross não é ruim, apenas não brilha, é café com leite. Mark Millar conseguiu J. G. Jones para Wanted, John Romita Jr. para Kick Ass e Steve McNiven para Nemesis, podia ter arranjado alguém melhor para esse título, onde enquanto o roteiro prima pela genialidade e o ilustrador simplesmente fica para trás, comendo poeira.
O veredicto do Ozymandias Realista para American Jesus/Chosen: O Escolhido é nota nove. Conseguiria um dez com uma arte melhor, diante da qualidade do texto a arte realmente ficou devendo.
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