COMENTÁRIOS DESPRETENSIOSOS SOBRE 50 TONS DE CINZA


Assisti como a essa obra no Sábado, por falta de interesse tempo eu não escrevi um “texto” sobre isso antes, embora algumas ideias e referências passeavam na minha cabeça enquanto eu assistia esse filme. Tal como o Herald Henry, não li a obra original, ou tive grandes expectativas, fui mais como acompanhante, sem esperar nada demais, e recebi o esperado.
Apesar do enredo fraco, o filme toca de maneira quase realista, a situação controversa da mulher dessa geração atual, (ou infelizmente boa parte delas, me perdoem os mais “sensíveis”): A mulher que brada independência, romantismo, mas ao mesmo tempo acaba se entregando ao oposto, agindo de maneira totalmente contrária as declaradas pretensões feministas. A personagem principal está longe de ser uma vítima, e sim uma mulher dessa geração guiada pela emoção e poder oferecido a ela pela sua beleza, nem que para isso ela tenha de ser humilhada e vilipendiada. O protagonista “doente” do filme, assumidamente cafajeste, já mostra a moça que não pretende oferecer contos de fada, que a só enxerga como uma maneira de satisfazer, mais precisamente uma escrava sexual e ponto, nada de palavras bonitas, ou flores “Eu não faço amor, eu fodo, com força” (precisava escutar o feedback da mulherada no cinema, mas voltando...)






O sucesso de uma obra dessa, mais evidencia o tom de cumplicidade do sexo feminino com esse arquétipo de “homem” tão comum no meio social, tanto é que ele é o “Edward atual das sonhadoras” (ou seja lá como chamem), só que diferente do Edward, que reforça o falso mito da aceitação que o homem cortês e romântico recebe, nós temos agora o que pode-se chamar de “galã mais próximo da realidade”.
Vejo vários homens inconformados, pelas ultimas semanas mesmo, tecendo linhas e mais linhas sobre o quanto é um absurdo essa obra alcançar todo esse sucesso, infelizes que querem negar a si e ao mundo, que boa parte das mulheres hoje em dia não é mais da geração dos avós dele, que escolhiam um companheiro pelo caráter e seriedade com a família que formariam, ao contrário de hoje, onde um macho alpha com destaque financeiro de vários dígitos é o diferencial decisivo. E desde começo o filme demonstra simples metodologia, como na seguinte cenas: como o convite para um passeio de helicóptero cujo ele mesmo é o piloto, logo depois lhe concedendo presentes caros, ou mesmo demonstrando ser uma celebridade da formatura dela. 
Já pesa aqui o fator de poder e emoção intensa. Reflita um instante, se a situação fosse bem inversa, sendo o conquistador um trabalhador braçal qualquer, se tudo teria ido aonde foi... Ou mesmo o prazer que ela sente perto das demais mulheres ao saber que um homem desejado por todas as outras, escolheu a ela, mesmo ela ciente do sadismo do mesmo, prefere relevar toda uma monstruosidade que ele possui com a máscara do “Ele vai mudar para mim.”
"Quando compras um tigre e o levas para casa,
deve se preparar para alimentá-lo.
"
Já o comportamento do sr. Grey, na minha visão é totalmente de uma mente desequilibrada e fraca, de alguém que mesmo que tenha sofrido estupros e outros abusos por uma amiga da mãe adotiva dele, preferiu ignorar os recursos que tinha a dispor, ou mesmo revidar sobre a situação, crescendo como um riquinho nutrido por ócio e uma vontade inconsciente de atingir o prazer com a violência, tentando fazer de Anastácia, mais uma figura materna, onde ele pode extrapolar seu rancor visualizando mais uma vez inconscientemente a mãe biológica, bem como a amiga da mãe... E pensar que tem gente que acha que o Rorscharch que é doente, o cara sofreu danos psicológico pior advindo de uma mãe prostituta e converteu isso em justiça ao meio social, ao contrário desse mimado protagonista, tão adorado por ter traços pateticamente reais do imaginário feminino. A lógica é um dia ele montar um harém, chegando a extrapolar o prazer de só bater para amenizar a própria dor, e ir para o outro lado da coisa, que é apanhar incessantemente. Mas e depois? Quando tudo que é proibido é permitido a alguém que só se satisfaz com o proibido, onde direcionaria todo esse desejo?








Como eu assisti dublado, o que não ajudou a experiência, tenho a leve sensação que por ironia do destino os dubladores dos protagonistas parecem ser os dos filmes do Quarteto Fantástico, as vozes do Reed e da Sue... Além de uma semelhança aberrante de fisionomia desse ator com o Eric Bana, em especial na atuação dele como o Hulk em 2003, fica a sensação que ele vai virar um monstro de 10 metros a qualquer hora, fazendo o filme ser interessante como o do Ang Lee. Deixo ainda a recomendação da fase do Azzarello em Hellblazer para quem deseja ler algo com um indivíduo mais crível que o do filme, ali sim tem um genuíno doente do mundo da depravação sexual, apesar dele ter uma relação, um tanto desconfortante para alguns com o Constantine... 


Ou mesmo se o desejo é assistir algo que trate da sexualidade de forma ampla, as duas partes do genial Ninfomaníaca, já que ao que parece, 50 Tons é mais uma versão de faixa etária de 12 anos da obra do Trier, do jeito que tudo é escancarado na sociedade, daqui a no máximo uns dez anos vai tá passando na Sessão da Tarde como “Cult” toda a trilogia dos 50 Tons... Pena dessas crianças que vêm essa película como revolução sexual, visualizo mais como o mundo mais desmascarado mesmo.



Força e honra.

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