Opinião: O Horror! O Horror!


O fim da miséria e da pobreza é uma aspiração humana que não cabe em nenhuma perspectiva de vida. Não há tempo. E nada é tão ruim como estar enganado. Não se deve acreditar que a dignidade dos pobres e miseráveis pode ser resgatada como se resgata náufragos, vítimas de violência e de sequestro. Pode-se criar programas sociais, alicerçados na vontade política de legisladores e na determinação de governantes que agilizariam as funções do Estado para que a máquina governamental dê conta da missão. O Leviatã hobbesiano se levantaria como um cachorrinho a ouvir a voz do dono e se prontificaria a obedecer todas as suas ordens conforme os esquemas plantados por um treinador. Mas, contraditoriamente, e por incrível que possa parecer, o homem não é o lobo do homem: isso é apenas um trocadilho infeliz que que leva a pensar no futuro como uma projeção trágica. Nenhuma mudança pode se efetivar sem um vínculo com a realidade. 


 A miséria e a pobreza tornam as pessoas meros acessórios. Por acessórios, as pessoas se tornam descartáveis e à margem de qualquer ação governamental. Pode-se vê-las como qualquer amontoado de lixo, confundindo-se com ele. Eis a questão. As velhas aspirações revolucionárias caducaram frente aos apelos do consumo e da ilusão de que o progresso material pode fazer superar todos os desconfortos. A superfluidade dos produtos compráveis, dessa forma, iguala as pessoas às mercadorias que adquirem para suprir o vazio, o que leva a reafirmar o truísmo de Blaise Pascal com grande amargura: "Coração tem razões que a própria razão desconhece". As revoluções não se sustentam mais. Ativam-se os banhos de sangue e evocam-se as ameaças nucleares que possam justificar qualquer e toda iniciativa de destruição de uns pelos outros. Ou se cultiva o medo, o horror, a ameaça de morte.


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