Review Cinema: The Way He Looks/Hoje Eu Quero Voltar Sozinho



Eu li uma vez que todos os escritores do mundo um dia esbarram numa história que lhes dá um aperto no coração não ter sido escrita por eles. "Será?", pensei na época. Olha aí, dito e feito. The Way He Looks/Hoje eu Quero Voltar sozinho é o meu filho ilegítimo perdido pelo qual entrarei com um processo de DNA brevemente. Que pena que não é meu, pois é uma bela junção de tudo que eu ando amando na literatura/ficção por esses dias. Demos uma olhada mais de perto nessa Monalisa, nessa Quinta de Beethoven, nesse Hamlet.


Leonardo é um garoto como outro qualquer, ou quase isso. Se você está esperando que eu dê uma sinopse completa vai ficar decepcionado, eu tenho 3 regras básicas para review: Primeira, nada de spoilers, spoiler não é coisa de gente de caráter; Segunda, nada de sinopse, o preguiçoso dos preguiçosos ainda é capaz de catar a caixinha do DVD e dar uma lidinha na contracapa, eu não estou me propondo a apresentar a história para um ignorante, eu falo a quem sabe e aqui entra a terceira regra, review é pra dissecar as entranhas da obra, não ficar na superfície mas talvez pescar aquilo que extrapola sem necessariamente estar explícito.

Um dos maiores feitos que uma história pode alcançar é quando nos convence de que os personagens são reais e te faz se importar com eles, sentir o que eles sentem. O melhor roteiro do universo nada é se você não se importar com o personagem. Mas quando te convence que é real, te faz sentir o que ele sente se preocupar com o que vai acontecer... Bem, esse é o pulo do gato. Essa é a mágica da coisa. Essa é a promessa que o cinema nos faz.

Leonardo é um garoto como outro qualquer, talvez ele estude na sua classe, talvez ele esteja agora estudando na sala ao lado. Ele é de carne e osso, ele respira, ele sangra e com a sua história te arrebata e quando se dá conta você já embarcou e nem viu. O roteiro acerta no tom realístico, com os garotos bebendo vodca escondido dos adultos ou os encrenqueiros da classe, nada tem aquela cara de ficção inventada, tudo é muito palpável, os diálogos são tão viscerais que é difícil acreditar que não se trate da observação de um acontecido real. E precisamente essa é a mágica da coisa. O filme te puxa para dentro, não tem como não sentir.

Uma vez alguém disse, em algum lugar, que os humanos inventaram a ficção como forma de exercitar sua mente e seus sentimentos, da mesma maneira como as abdominais seriam para os músculos. Se for assim, Hoje Eu quero Voltar Sozinho/The Way He Looks são umas doze horas de malhação intensa. Um esforço que vale a barriguinha sarada depois. 

Aí alguém em algum lugar vai dizer que eu encerrei a resenha sem mencionar um detalhe vital na natureza do filme. Mas aí é que está, acho que não é por aí. Não tem aquela proposta destruidora de paradigmas que era o mote em Do Começo Ao Fim, nem foi feito para ser uma bandeira como o hino Fuck You da Lily Allen. Não é por aí. Essa história existe num contexto contemporâneo sem rótulos, estereótipos ou etiquetas. Leonardo é um garoto como outro qualquer. Mas um que arrancou uma nota 9,5 do Ozymandias Realista.

 - Ítalo Azul - 


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